O vendedor de palavras, por Fábio Reynol
texto de: Fábio Reynol. Ouviu dizer que o Brasil sofria de uma grave falta de palavras. Em um programa de TV, viu uma escritora lamentando que não se liam livros nesta terra, por isso as palavras estavam em falta na praça. O mal tinha até nome de batismo, como qualquer doença grande, "indigência lexical". Comerciante de tino que era, não perdeu tempo em ter uma idéia fantástica. Pegou dicionário, mesa e cartolina e saiu ao mercado cavar espaço entre os camelôs. Entre uma banca de relógios e outra de lingerie instalou a sua: uma mesa, o dicionário e a cartolina na qual se lia: "Histriônico — apenas R$ 0,50!". Demorou quase quatro horas para que o primeiro de mais de cinqüenta curiosos parasse e perguntasse. — O que o senhor está vendendo? — Palavras, meu senhor. A promoção do dia é histriônico a cinqüenta centavos como diz a placa. — O senhor não pode vender palavras. Elas não são suas. Palavras são de todos. — O senhor sabe o significado de histriônico? — Não. — Ent...