Desejo dialogando com Ausência, de Vinícius de Moraes

Desejo
Por Ana Marques
Para que deixas morrer o desejo?
De ver minha face ante a sua.
Se a vê ainda que não esteja presente,
em tuas entranhas
dançando uma dança estranha
feita de gestos , de amor e de prazer
Ninguém pode notar,
mas você me pode ver...
Minha face roçando a tua...
Madrugada nua.
Em que danço dentro de você.
Não... mesmo longe não morre o desejo.
Porque desejo de carne... este tens ... que vem e vai.
Mas o desejo do espírito,
vive sem motivo,
dentro das tuas entranhas
Admirando uma dança,
sem poder definir
de onde vem, para onde partir.
Me leva consigo, sem escolha.
E parte... deixando tudo,
mas leva minha face ante a sua.
Observação: Nessa poesia, dialogo com o poema "Ausência", de Vinícius de Moraes. Quando o li, pela primeira vez, há 6 anos atrás percebi que existiam conexões, que poderia haver uma continuação. Não quero entrar com falsas modéstias ou me comparar a um poeta como ele, mas dialogar com a poesia sempre foi algo maravilhoso e que adorei fazer.
Comentários
É muito bom poder ler vc novamente, da forma como vc gosta de escrever... voltarei mais vezes!
bjs e bênçãos,
Évora
conhece o poema ausência de Drummond?
veja só:
Ausência
Autor: Carlos Drummond de Andrade
Por muito tempo achei que ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém rouba mais de mim.
(do livro "O corpo", editora Record)
em breve, aguarde um poema dialogando com Drummond... esse poema, em especial, é um dos que mais gosto. Porque, para mim, assimilar a ausência assim é retirar o poder do outro e trazê-lo para si. Perfeito!
Évora, obrigada pela visita e pelo elogio. Volte sim! Sempre.
Beijos!
mas você me pode ver...
Minha face roçando a tua...
Madrugada nua.
Em que danço dentro de você."
Belíssima estrofe.
Baci ;-)