A Bailarina
"Olá, querido. O que faz aqui?"
"Oi, como a senhora está?"
Ela se animou visivelmente enquanto tagarelava.
"Quer um beijo? Ah, mas você é tão jovem para ficar admirando uma mulher mais velha como eu! Que tal um autógrafo? Sou casada, sabe? E com um belo homem, muito inteligente e muito, mas muito ciumento. Me desculpe não corresponder a sua admiração, desculpe..."
Ela sorriu para o espelho e o rosto fortemente maquiado sorriu de volta. Levantou-se e ensaiou passos de dança. Sem qualquer aviso, desabou na cadeira, como se estivesse muito cansada, e desatou a falar:
"Dancei tantas vezes no teatro. A vida era boa, sabe? Meu coração se enchia de alegria com os movimentos e a admiração das pessoas. Eu era requestada, era amada! Nunca houve ninguém como eu. A pele tão bonita, o rosto formoso, o cabelo por todas copiado. Já te disse que meu marido era muito ciumento? Ele nunca me deixava sozinha! Aliás, onde será que ele está agora? O que será que aconteceu para ele me deixar sozinha com você? Antes ele nunca permitiria..."
Ela encarou o espelho e alisou a face muito branca de cosméticos. A pele mole, meio descarnada, grudava em seus dedos e pendia frouxa no rosto. Por um instante, sua expressão foi de extremo horror:
"Quem é essa? Quem é que eu não conheço! Quem é? Seja quem você for, eu te amaldiçoo! Não me olhe, velha horrorosa! Não me encare, olhos enrugados! Minha tez perfeita se ressente dessa maldade existente nos teus vincos profundos!"
Ela jogou escovas, pentes e enfeites de cabelo no espelho. Depois começou a rir e pareceu perceber que o rapaz continuava ali.
"Me desculpe! As vezes eu fico nervosa quando vejo essa mulher. Tenho verdadeiro pavor dela e não sei porque ela insiste em aparecer para mim."
O jovem a olhava entristecido, mas ela parecia incapaz de perceber as emoções dele.
"Mãe? Você não consegue me reconhecer?"
Cantarolando ela girava um pote de creme na penteadeira, de vez em quando arriscava uma nova olhada ao espelho luminoso. De repente, virou-se para ele.
"Uma vez tive um filho." - sua voz estava quase firme - "Mas ele desapareceu, assim como meu marido. Eu já te contei que tive um marido? É, eu era casada e ele era muito, muito ciumento..."
Ela levantou e rodopiou.
"Agora eu só tenho o meu camarim e o meu espelho. Mas as pessoas amam me ver dançar, entende? Elas amam que eu ainda esteja aqui."
E ela voltou a dançar pelo quarto, cantarolando músicas que para ele eram desconhecidas. Ele suspirou e, em silêncio, se retirou do quarto da casa de repouso.
"Oi, como a senhora está?"
Ela se animou visivelmente enquanto tagarelava.
"Quer um beijo? Ah, mas você é tão jovem para ficar admirando uma mulher mais velha como eu! Que tal um autógrafo? Sou casada, sabe? E com um belo homem, muito inteligente e muito, mas muito ciumento. Me desculpe não corresponder a sua admiração, desculpe..."
Ela sorriu para o espelho e o rosto fortemente maquiado sorriu de volta. Levantou-se e ensaiou passos de dança. Sem qualquer aviso, desabou na cadeira, como se estivesse muito cansada, e desatou a falar:
"Dancei tantas vezes no teatro. A vida era boa, sabe? Meu coração se enchia de alegria com os movimentos e a admiração das pessoas. Eu era requestada, era amada! Nunca houve ninguém como eu. A pele tão bonita, o rosto formoso, o cabelo por todas copiado. Já te disse que meu marido era muito ciumento? Ele nunca me deixava sozinha! Aliás, onde será que ele está agora? O que será que aconteceu para ele me deixar sozinha com você? Antes ele nunca permitiria..."
Ela encarou o espelho e alisou a face muito branca de cosméticos. A pele mole, meio descarnada, grudava em seus dedos e pendia frouxa no rosto. Por um instante, sua expressão foi de extremo horror:
"Quem é essa? Quem é que eu não conheço! Quem é? Seja quem você for, eu te amaldiçoo! Não me olhe, velha horrorosa! Não me encare, olhos enrugados! Minha tez perfeita se ressente dessa maldade existente nos teus vincos profundos!"
Ela jogou escovas, pentes e enfeites de cabelo no espelho. Depois começou a rir e pareceu perceber que o rapaz continuava ali.
"Me desculpe! As vezes eu fico nervosa quando vejo essa mulher. Tenho verdadeiro pavor dela e não sei porque ela insiste em aparecer para mim."
O jovem a olhava entristecido, mas ela parecia incapaz de perceber as emoções dele.
"Mãe? Você não consegue me reconhecer?"
Cantarolando ela girava um pote de creme na penteadeira, de vez em quando arriscava uma nova olhada ao espelho luminoso. De repente, virou-se para ele.
"Uma vez tive um filho." - sua voz estava quase firme - "Mas ele desapareceu, assim como meu marido. Eu já te contei que tive um marido? É, eu era casada e ele era muito, muito ciumento..."
Ela levantou e rodopiou.
"Agora eu só tenho o meu camarim e o meu espelho. Mas as pessoas amam me ver dançar, entende? Elas amam que eu ainda esteja aqui."
E ela voltou a dançar pelo quarto, cantarolando músicas que para ele eram desconhecidas. Ele suspirou e, em silêncio, se retirou do quarto da casa de repouso.
Tinha mandado instalar junto à penteadeira um espelho igual ao que havia no camarim do teatro, onde ela fez a sua última apresentação. Deixou-a ali prometendo a si mesmo que voltaria na próxima semana e, quem sabe?, traria flores.
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