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Mostrando postagens de abril, 2006

Frida Kahlo – Óleo sobre a vida

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Foi esse quadro que me comoveu. Haviam me falado sobre o filme e comentado sobre a pintora, mas nada havia me preparado para uma imagem dessas. A dor aqui não é apenas retratada, o quadro quase parece ter sido moldado no sangue de Frida. Esse quadro – A Coluna Quebrada - não foi pintado, foi arrancado. Admirar os quadros porém é uma tarefa quase impossível para quem não conhece a história. A biografia de Frida se entrelaça a tudo àquilo que ela produziu. Vida e obra não estão apenas conectadas, lendo e admirando percebemos que não existe linha de separação. Para não cair no abismo de uma dor insuportável, Frida transcendeu essa agonia pintando-a nas telas. ''Não estou doente. Estou partida. Mas me sinto feliz por continuar viva enquanto puder pintar.'' Contraiu poliomielite quando criança, aos dezoito anos sofreu um acidente que a deixaria meses na cama e traria toda sorte de infortúnios para sua vida: a perda do noivo, o uso de um colete de gesso, a impossibilidade de...

Desejo dialogando com Ausência, de Vinícius de Moraes

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Desejo Por Ana Marques Para que deixas morrer o desejo? De ver minha face ante a sua. Se a vê ainda que não esteja presente, em tuas entranhas dançando uma dança estranha feita de gestos , de amor e de prazer Ninguém pode notar, mas você me pode ver... Minha face roçando a tua... Madrugada nua. Em que danço dentro de você. Não... mesmo longe não morre o desejo. Porque desejo de carne... este tens ... que vem e vai. Mas o desejo do espírito, vive sem motivo, dentro das tuas entranhas Admirando uma dança, sem poder definir de onde vem, para onde partir. Me leva consigo, sem escolha. E parte... deixando tudo, mas leva minha face ante a sua. Observação: Nessa poesia, dialogo com o poema "Ausência", de Vinícius de Moraes. Quando o li, pela primeira vez, há 6 anos atrás percebi que existiam conexões, que poderia haver uma continuação. Não quero entrar com falsas modéstias ou me comparar a um poeta como ele, mas dialogar com a poesia sempre foi algo maravilhoso e que adorei fazer.

Moça com brinco de pérola

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Algumas pinturas nos despertam interesse, admiração, encantamento. Mas poucas causaram, pelo menos em mim, tal impressão de suavidade mesclada a um agradável mistério quanto a pintura intitulada Moça com brinco de pérola , do holandês Johannes Veermer. Bela, de uma tristeza quase sedutora, parece convidar à apreciação. É fácil passar horas olhando a perfeição do brilho que a pérola emite, que os olhos instigam, que a boca insinua. Vejo claramente, aqui, que a sensualidade pode ser completamente inocente e sugerir apenas que existe a possibilidade de, mas sem deixar nada claro. O quadro me fascina. Só não sei dizer se o fascínio que eu sinto foi criado a partir do filme, que eu vi antes de conhecer o quadro, ou se o filme me inspirou tanto enlevo porque me apaixonei pela pintura. Baseado no livro de Tracy Chevalier, que por sua vez o criou inspirada no mistério que ronda a identidade da moça que posou para Veermer nesse quadro e na sua expressão dúbia e enigmática, o filme é singular. O...

A ausência da Amada e a presença da Musa-Estrela

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Ausência Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face. Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa. Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço. E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos portos ...

O Sol e a irradiação do Amor

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Soneto do amor total Vicícius de Moraes Amo-te tanto, meu amor... não cante O humano coração com mais verdade... Amo-te como amigo e como amante Numa sempre diversa realidade Amo-te afim, de um calmo amor prestante, E te amo além, presente na saudade. Amo-te, enfim, com grande liberdade Dentro da eternidade e a cada instante. Amo-te como um bicho, simplesmente, De um amor sem mistério e sem virtude Com um desejo maciço e permanente. E de te amar assim muito e amiúde, É que um dia em teu corpo de repente Hei de morrer de amar mais do que pude. Rio de Janeiro, 1951 in Novos Poemas (II) in Livro de Sonetos in Poesia completa e prosa: "Poesia varia" Interpretação: O Sol - o grande Arcano do Amor - irradia nesse poema através da liberdade, da força, da paixão e do calor que esses versos possuem. Muitas vezes quem estuda o tarô tem dificuldade para encontrar quais arcanos falam de amor, e se prendem ao nome sugestivo do Arcano VI (Os Amantes ou O Enamorado), se esquecendo qu...

O Mundo e os mundos infinitos

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X O segredo da Busca é que não se acha. Eternos mundos infinitamente, Uns dentro de outros, sem cessar decorrem Inúteis; Sóis, Deuses, Deus dos Deuses Neles intercalados e perdidos Nem a nós encontramos no infinito. Tudo é sempre diverso, e sempre adiante De [Deus] e Deuses: essa, a luz incerta Da suprema verdade. XI Nos vastos céus estrelados Que estão além da razão, Sob a regência de fados Que ninguém sabe o que são, Ha sistemas infinitos, Sóis centros de mundos seus, E cada sol é um Deus. Eternamente excluídos Uns dos outros, cada um É universo. Fernando Pessoa Retirado de: Primeiro Fausto, Primeiro Tema, O mistério do Mundo. Versos X e XI. Fonte: http://www.jornaldepoesia.jor.br/fpesso48.html Interpretação: a chegada ao fim da Jornada é ao mesmo tempo recompensadora e frustrante. Estar no Arcano XXI - O Mundo - é perceber que como cascas de cebolas, existem inúmeros outros mundos a serem conquistados, vividos, encontrados. Chegar ao fim foi apenas uma outra forma de começar novam...