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Mostrando postagens de março, 2008

Vazio

Olho para os lados: ninguém. Cidade vazia que vejo, que passa num lampejo. Cantos da casa e poeira, alguém? O barulho da rua vazia, a lembrança da vida corrida. Memória do barulho e carência também. Recordações de crianças correndo, alegria domingo, macarrão e frango, família Nenhum barulho perturba ou entretém. Televisão preenche o vazio, ruídos, a solidão abrevio. Tristeza, solidão e vazio mantém. Preciso fugir dessa masmorra. Saio, antes que eu morra. Obs: Amigo Chip, a poesia é minha, os sentimentos são seus.

A Criadora de Tudo

Sou aquela que se ergue do fundo dos mares porque os criou. Sou aquela que surge das profundezas dos vulcões. Lava e água. Mar e erupção. A terra que se abre é o meu corpo. Tua face é meu rosto. Tua ferida minha infecção. Sou seu chão. Dos céus, raio e trovão. O centro do planeta em ebulição é o meu coração. Bate coração, que a vida é criada do útero, da fúria vivificada. O meu sonho é o sonho de todos no redemoinho que é a minha canção: A canção da criação.

Dança

Vem dançar comigo... povoar minha vida dos teus passos. Nos rodopios em que enlevas, minha alma a levitar. Me faz cruzar o céu Entender o universo... Vamos dançar bem perto. Tocar teus cabelos, sentir os teus dedos. Leva para teu corpo os meus sentidos. Dança comigo. Meu no teu corpo, a suavidade e a leveza a força e a coragem. Faz girar meus pés, me puxa de volta. Coloca teus braços em minha cintura criar a fada que voará em tuas mãos. Gira meu corpo no ar e me faça voar...

Duelo

A verdade me olhou nos olhos e respondeu: É mentira! Não fui eu que desfiz sua vida. A mentira ria e respondia: É verdade! Ela engana que não estraga, mas suas entranhas são amargas. Exasperada, a verdade argumentava: Ela mente! Perceba só que amor que é pó Não tem nó que o segure. Divertindo-se muito, a mentira finalizou: É verdade, de ignorância vive o amor. Acenda a luz, o amor fugirá. Implore, mas não voltará. Cegue-se e nunca faltará. Duelaram... e desistiram. A verdade mentia para se safar, a mentira era sincera para atacar. Na minha cegueira intensa clareza e uma certeza: ambas se consumiam.

Aniversário.

Hoje é meu aniversário... ou melhor, foi ontem. Aliás, meu aniversário acabou há exatos 15 minutos. Buenas... acordei pensando se a mudança de um dia para o outro acentuaria rugas, denunciaria (de repente!) que um ano se passou, será que a bunda cai porque dia 18 chegou e passou? Esse dia, que adoro porque AMO receber presentes e atenção e felizes-aniversários e parabéns e etc., muda o quê? Talvez... e tão somete talvez a minha percepção de tempo. Talvez me faça ver, assim do nada, que o tempo está passando. E que 35 anos viraram 36. E que se eu não tomar cuidado... 36 viram 70. E o cuidado que preciso tomar não é com os anos que passarão (espero!), mas com o que farei neles. Realizar. Crescer. Aparecer. Satisfazer. Ser mais eu. Ser mais feliz. Ensinar, sendo feliz, a felicidade aos meus filhos. Proporcionar, sendo feliz, a possibilidade de meu marido também ser feliz. Estagnar, nunca. Desistir, nem pensar. Estar aqui... estar em todos os lugares... estar aonde eu desejar estar. Ser li...

Parede de vidro

Não sei dizer como o vi ali. Ali estava eu, ali estava ele e a parede de vidro E "oi" que se formou morreu no barulho da rua, dos carros, freios e gritos Não importava saber quem éramos até ali. Depois de ali, veio o que era preciso A vaga deu coragem ao "oi" que foi dito. Dentro da garagem, abaixamos o vidro e sem a parede o "oi" foi ouvido. Um café, lá fora um cigarro. Cinzeiro, um cartão e um sorriso. Seu rosto já não era tão novo, o meu nem era tão bonito. Mas nós, como quis o destino. Enfim.

Paixão 800x600

por Ana Marques Houve um tempo em que se conheciam. Foi nas coincidências da vida, ou melhor, da Internet que o primeiro e-mail se cruzou. Houve identificação, mas cada um deles - imersos que estavam em sua própria vida - apenas pressentiram o que estaria por vir.Um dia, entre conversas no chat, e-mails e troca de idéias, trocaram fotos. Olharam nos olhos parados da tela, e se apaixonaram: paixão em 800 x 600. Dias depois combinaram de se ver. Ela foi esperá-lo, pois ele vinha de longe. A Internet tem dessas, não escolhe distância entre amantes. Ele ainda não podia vê-la, e pôde apreciá-lo de longe: ar cansado, sorriso de expectativa, óculos e o violão. Ele estava todo de preto, claro. Ficou olhando para ele, e soube que naquele momento sua vida havia mudado. Depois de alguns minutos, deixou que ele a visse e foi ao seu encontro. A paixão, já desencadeada, floresceu: encontros, partidas, telefonemas diários, conversas via computador. Valia qualquer recurso para matar a saudade e conhec...

Não te falo mais nada.

Não te falo mais nada. Meu corpo não tem espaço para tanta pancada e meu fígado já falha da raiva que eu guardo. Não tenho voz para te acusar, não tenho sangue para me defender. Vivo dos desvios, às vezes rápidos e às vezes lentos, dos tapas que evito e às vezes apanho. Meu corpo sacode no ar, não de alegria e nem de gozo, sacode apenas da surra que me espera ao final de cada dia ruim. Que vida é essa? A igreja e o padre não respondem. Resigno a mim mesma em orações que não faço. Não vou mais a missa, não acredito em mais nada, e dia a dia a vida segue sem cessar. E não cessa a pancada, que às vezes chega aos filhos. Filhos esses que também não param de chegar. Chega. A odisséia remonta o espetáculo. Retoma o palco e lá vou eu. É mais longa a sessão de porrada e quase por nada eu durmo no chão. O sangue se espalha, eu limpo, cansada, vou passando o pano no chão. Não te falo mais nada. A boca não abre de tão inchada, os dentes já moles reclamam dentista, comida, dignidade e um pouco de ...

Um quinhão de prazer

por Ana Marques - em 21/03/2005 No quinhão que ele trazia, Luiza encontrava alguns segredos. Eram sempre segredos de amor o que ele lhe contava. Alguns ela entendia, outros adivinhava.Como no dia em que ele lhe trouxe um quinhão de bombons, ou aquele do quinhão de risadas. Mas bom mesmo foi o dia do quinhão de beijos, vários e espalhados pelo corpo, alguns causando cócegas, outros arrepios. Ela entendeu bem, mas não soube colocar em palavras. Apenas espiou cuidadosa para ninguém ver, e saboreou cada um deles. Luiza era muito nova ainda: trabalhava e estudava. Pegava duas horas de conduções entre um e outro, sempre de pé e sempre apertada. Longo caminho até o seu posto diário. Longo caminho até a escola. E depois de lições, sono controlado e alguns trabalhos, longo caminho até em casa. Mas ela não reclamava. Tinha tempo que procurava esconder o brilho nos olhos, muito cedo aprendeu sobrea inveja e decidiu não dar colher de chá para essa atravessada! Pois abaixava os olhos e escondia o q...

Dia da mulher - Emancipação feminina, o que é isso mesmo?

O dia da mulher está chegando... todo ano fico de olho nos jornais, nas TVs, nos comentários, para descobrir o que estará sendo feito, como será comemorado esse dia. É sempre importante lembrar que aquilo que nos proporcionam no "nosso dia" é também uma forma de mostrar publicamente qual a real imagem que a sociedade tem da mulher. Sempre podemos perceber, basta ler nas entrelinhas. Mas a despeito disso, resolvi falar sobre o assunto evocando minhas eternas fontes de inspiração: o BBB e o site da Globo. Ambos não representam, é claro, a população brasileira, mas ambos tem um alcance gigantesco. Um dia, vasculhando o site de notícias da Globo , me deparei com uma chamada falando que o (Pedro) Bial havia perguntando aos brothers sobre as maiores conquistas da emancipação feminina. Curiosa, fui ver o vídeo. Triste... claramente ninguém sabia do que o apresentador falava, nem o que comentar ou como debater o assunto. Não acreditam? Então cliquem aqui e vejam por si mesmos. Assi...

Perdas - prosa sem sentido noite adentro.

As vezes acredito que deixei mais nas linhas do meu diário do que me lembro, perdido no tempo da minha infância. Sim, porque era eu infante aos doze, aos treze, ao vinte e ainda o sou hoje aos trinta e cinco. Que prazer eu trouxe ao presente que não seja mesclado de passado? Que alegria que cobre a fronte, que não tenha raízes nas bonecas que acalentei? Se a vida é feita de passado, o passado é feito de perdas. Logo, o que perdemos se torna tão presente que nos é difícil viver sem elas. Venham perdas, voltem. Ou não. Talvez não. Fiquem. Se não as perder, como vou continuar sentindo-lhe a falta e assim continuar a povoar a minha vida de ausências? Fiquem ausentes, minhas perdas. Meus passados não esquecidos, não voltem! Não tenho espaço no meu vazio para vocês. Meu vazio está preenchido de saudade. E sem a saudade que me move adiante, o meu caminho estaria repleto, e se repleto estivesse... que espaço sobraria para mim?