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Mostrando postagens de abril, 2008

Tributo das musas

Por Ana Marques Musa: Pagaste? Poeta: Paguei sim... Musa: E o recibo? Poeta: Recibo? Recibo não tenho. Musa: Então pague. Em dinheiro. Poeta: Não tenho dinheiro. Musa: Azar... Poeta: Azar? Musa: Quem mandou querer ser poeta, sem ter como pagar? Poeta: Entrega-me a inspiração! Musa: Inspiração não responde ao grito, a loucura ou à fossa. Poeta: Mas o que faço sem tua inspiração? Qual será minha sina? Musa: Seja como os medíocres... escreva frases toscas. Musa (rindo): E chama de poesia...

Bem-comportada

por Ana Marques Sou uma fada bem comportada de pernas entreabertas e de asa virada. PS: Para Alice Ruiz. Musa, inspiração desse poema e poeta que leio com imenso prazer.

Passos combinados

Por Ana Marques Nossos passos combinavam. Os atos se entretinham em dias de descaso sonhos me sorriram. Os meus dedos na cama corpo perdido no seu suor: cheiro de vida tempo que se encolheu Vida fora da vida, minutos não eram nossos, a mentira transformista merecia fim mais dócil... Para quê fim mais dócil? A transformista morria... tempo roubado do fosso da vida esmaecida Tempo disse adeus ao suor já sem vida. O corpo perdido do seu, dedos na cama vazia. Sonhos se despediram descaso desarmado. Atos que nos fugiram dispersaram nossos passos. Nas ruas sem esquinas seguindo ao fim da linha. Buscando atalhos em ruas. Atalho para...

Sou sim. Sou eu. Estou.

por Ana Marques Sou o caminho, a verdade e a vida. O caminho sem salvação. A verdade na escuridão. A vida na perdição. Sou sim. O caminho que não tem volta. A verdade que vem à tona. A vida que se esgota. Sou sim. O caminho no alto do monte. A verdade refletida na fronte. A vida nascida da fonte. Sou eu. Caminho um caminho de sombras, maré da verdade quebrada em ondas, vida que evapora em gotas. Sou eu. Sou eu o caminho que te dá arrepios. Sou eu a verdade que permeia o destino. Sou eu a vida em sono escurecido. No caminho que te persegue... Na verdade que te protege... Na vida que te recebe... Estou. Sou sim. Sou eu. Estou.

Máscaras

Vou cozinhar no tacho uma máscara de barro. Refazer meu rosto nos moldes do inferno. Ver quem sou e me esconder. Mostrar nos meus traços a quem devem temer. Vou cozinhar no tacho uma máscara de granito. Esconder meu rosto nos passos do destino. Vou entrar nos meandros do submundo conquistado, encontrar Perséfone e maldizer a morte. Vou cozinhar no tacho uma máscara de bronze. Desfazer meu rosto nos traços dos esquecidos. Buscar o molde do meu rosto no meu caos inicial. Pescá-lo no lamaçal, retirá-lo do fundo do poço. Matem! Matem! Matem as máscaras. Retirem as máscaras! Que elas não me servem para nada. Levem as máscaras para o fundo do poço que elas afundem no lamaçal deste caos.

O Eu lírico, diálogos e vozes

Exercício da Oficina de Poesia ( Portal Liberal ) - Aula 2. 1) Um EU todo retorcido: Faça um poema em que você escreva seu nome próprio, como nos inúmeros exemplos aqui mostrados. Tente observar se ao escrevê-lo você está apresentando uma abordagem auto-crítica ou auto-celebratória, auto-piedosa ou cruel, ou seja, se está vendo o seu nome sob um prisma olímpico ou da inviabilidade. 2) Poema em vozes: Vale aqui soltar a imaginação. Escreva diálogos que ouviu na rua ou invente diálogos do modo que achar melhor... Não há nenhum problema se você quiser escrever até uma mini-peça (de no máximo duas páginas). O poeta e dramaturgo alemão Heiner Müller tem vários trabalhos que ficam numa região indecidível entre o poema e o drama, como esse aqui, tão curto quanto belo: PEÇA CORAÇÃO Um- Posso pôr meu coração a seus pés. Dois- Se não sujar meu chão. Um- Meu coração é limpo. Dois- É o que veremos. Um- Eu não consigo tirar. Dois- Você quer que eu ajude? Um- Se não incomodar. Dois- É um prazer para...

Oficina de poesia

Eu tenho um fraco por poesia. E prosa, contos, romances... de lazer a autores "consagrados", na verdade eu tenho um fraco enorme por literatura. Há poucos dias descobri um site fantástico, o Portal Literal . Lá tem algumas oficinas on - line que podem ser a diferença entre quem escreve e quem escreve BEM. Assim, bem MAIÚSCULO mesmo. Iniciei a oficina de poesia esses dias. Falta de tempo contribuíram para que eu atrasasse a leitura. Até porque poesia não é algo que se aprenda correndo. Inspiração que traz uma poesia magnífica diretamente para a ponta do lápis, ou do teclado, é pura ficção. Poesia se faz com labor e muita dedicação. Buenas ... a oficina, na 1a. aula, sugeria um exercício. Inserir num poema de sua preferência, estrofes de sua autoria. Segue a poesia original e o resultado do meu exercício. SEGREDO Carlos Drummond de Andrade A poesia é incomunicável. Fique torto no seu canto. Não ame. Ouço dizer que há tiroteio ao alcance do nosso corpo. É a revolução? o amor...

Perfeita mentira

Espiralando em mil pedaços escorraçando a alma partida. Minha crença numa missão foi rechaçada na solidão: ninguém chama, clama, precisa. Espiralando fora do tempo queria encontrar uma razão. Me vi sozinha, sem destino. Placas vazias demarcando o caminho repleto de espaço vazio. Eu não os vejo. Eu não enxergo. Eu não suporto... e desatino. (agora eu grito!) Espiralando na vida alheia. Mentiras, opiniões, que ninguém quer. Importante me faço, mas não me sinto. Importante quero, mas não consigo. Grito venenos a quem aparecer. Espiralando no meu passado. Não busco erros, mas respostas. Justificativas para minha insânia quero vender minha ganância como se fosse uma galhofa. Eu sou perfeita. Estou acesa. Repleta e plena. (de quê? não sei.) Espiralando, vida afora. Olhar para dentro e ver o que? Esqueço o tempo que eu jogo fora. A vida que vivo, o meu agora não tem sentido para viver. Espiralando, espiralando... volteando na luz e me queimar. O que eu busco é a saída, espiralar fora dessa me...

Eu nego.

Estou cansado nesses dias. Não posso mais enxergar, nos meus sonhos, na minha vida, uma esperança, uma magia... qualquer coisa nesse ar. Vou me enchendo de tristeza e o meu copo não esvazia. Essa sede que se abate, essa dor, essa agonia... Um repente, silencia. Aumenta o som, baixa a cabeça. Liga a dor, desliga a vida. Que a frustação é tão imensa. A solidão é tão sentida, não sobra espaço para que eu exista. Tanta dor, se não mereço... Incompreensão, que eu não quero. Se a frustração é o meu preço, o vício é o meu remédio. E eu mergulho, eu esqueço, eu reconheço. E eu nego.

Armadilha

Segui teus olhos em silêncio. Teus passos pelo aposento. Sentiu a minha perseguição. Criei tua armadilha e para ela caminhas sem notar a própria perdição. Conheço teus desejos íntimos, cada edifício e abismo para erguer ou atravessar. Tua alma refletida em mim. Teu sorriso é assim: esperançoso como teu olhar Notas em mim algo novo... Um brilho em meu rosto repleto de magia. Meu sorriso vibra diferente. As palavras vêm facilmente carregadas de ironia Não tenhas medo, a corda bamba em que quero ver a dança tem rede de proteção. O circo está armado, o espetáculo montado, que os artistas entrem em ação Somos livres, somos fortes! Temos ao nosso lado a sorte! Vamos representar! Quero ver-te sorrindo no palco, fingindo que não tem me desejado Minta ! Quero te ver atuar ! Prove seu valor para o público. Como és teimoso, forte, lúcido! Que realmente podes me deter. Mas não se admire ao final do espetáculo quando estiver descansando em meus braços, feliz por se render...

Estranho

Olá, estranho... que vai por entre a gente. Eu digo olá, sem mesmo te conhecer. Digo olá ao acaso desse dia quente e sugiro teu nome sem saber porquê Seus olhos brilham forte na distância. Meu rosto destacado na multidão. Será que você pode ver minha aliança? Pois num relance eu vi teu coração. Estranho, não diga olá ainda. Não fale nada dessa nossa sina. Os teus passos pesados intrigam, a linha da sua testa me fascina. Estranho, que me olha dentro dos olhos e entre o rosto de tantos, outros tantos. Estranho, estranho, enxergas no meu rosto essa esperança e um quê de desencanto? Ah, estranho... Somos ambos estranhos. Meus olhos verdes, seus olhos castanhos. Eu que te vejo sem te conhecer, você que me vê sem me entender Ah, estranho... estranha essa nossa química, que uniu pessoas estranhas numa larga avenida. Que fez de estranhas pessoas, dois amantes... enxergando na distância duas almas suplicantes

Revelações da Lua

O que será, como será? A lua escura vai revelar? Venha, entregue-se. A deusa escura protege. Venha, revele-se. Abra seu coração. A Lua Negra lerá os meandros da canção. A luz incindirá o interior mostrará. Lua negra, no teu reino todos os nossos receios estão nos assombrando. Os fantasmas vagando de fraquezas alimentando No escuro, a força brilha. A noite, os medos voam. O horror permeia a trilha e faz a verdade vir à tona, na razão que nos abandona. Na quietude noturna o entusiasmo vai reagir. Ouvimos a voz da lua e temos nosso elixir, instigando a prosseguir Sigam, filhos faustos. Sigam, filhas nuas. Pobres incautos... Em noite sem lua a magia flutua. Respondam, bruxos e bruxas: seus olhos podem cintilar? Em noites sem lua, na falta do luar, vocês ainda podem brilhar? Na noite da lua sem luz a determinação será testada. Responda: sua força reluz? Na loucura recriada soltas, suas feras algemadas. Não temam, meus filhos! Meu poder está no ar... Sou a lua sem brilho. Sou a mãe a gestar....

Coração

Coração, que liberdade é essa? Que busca é essa que te guia? Coloca os teus pés na terra. Mas que pés, minha mãe? Eu só tenho asas. Coração, pousa de volta. Corta essas asas, retorna. Que tão alto, cai e machuca. A queda não avisa, é brusca. Esquece essa ânsia, acorda! Ah, minha mãe. Me deixa. Não existem conselhos que parem minhas veias. O sangue que corre é todo meu! E ele foge, se eu desisto... Ah, minha mãe, eu sou o que sinto: pulso, coragem, vontade, instinto. Coração, não foge da realidade. Teu vôo é trágico, teu fim é verdade. Não tens futuro nesse caminho infeliz! Volta pro chão, esqueça essas asas! Minha mãe, eu tentei. Eu juro. Mas as asas são meu único futuro. Coração, meu querido, ouça a voz da razão! Esquece esses sonhos e essa ilusão. Futuro só existe para quem se conforma. Pousa no chão, não me assusta ou afronta! Mamãe querida, me deixa voar. Meu vôo é sem fim, meu destino está lá. Não volto, não desço, não tenho retorno. Prefiro cair a desistir do meu vôo. Prefiro mor...

Senhora

Ouve, Senhora, meu apelo! Minha ordem, minha súplica, meu desejo. Crie em mim a sua força, me recria e me destroça. Abre o meu peito e ouve o lamento. O som do animal que não enfrento que deseja sair de mim. Ouve, Senhora, eu enlouqueço! De sonhos, de vida, de anseios. Eu vivo a sua terra enquanto broto, meu peito encerra. Eu não nasço, não morro, portanto... presa sem rumo, no limbo: eu não crio, não temo, nem rio. Ouve, Senhora, eu reconheço! Sua presença, sua insistência e o meu temor. Abre meu peito, eu insisto! Liberta a euforia, eu não resisto. Quero brotar, morrer, sair do limbo: criar, partir, temer e rir. Ouve, Senhora, meu canto e festejo! De amor, de dor, alegria enfim. Abriste meu peito e dele voou um dragão sem destino e meu destino traçou. Agora eu broto, nasço e morro por fim. Sem medo, não temo: viver e partir.

Força!

Forças demais! Borbulhando dentro de mim... Vai, vai, vai! Vai explodir! Segura força! Ainda não estou pronta. Para, para, para! Antes que fique louca... Ebulição total. Transborda peito afora. Sangue, sangue, sangue! Trilha da aorta. Segura peito! Preserva: essa força é toda tua. Rasga, rasga, rasga! Dilacera, liberta a carne crua.